Ele sentou, cruzou as pernas do modo que os homens cruzam, abriu sua mochila que tinha repousado no chão, puxou uma caneta e um caderno, e ouvindo uma música agradabilíssima, começou a fazer uma coisa que gostava, escrever sobre o lugar e o que sentia no momento, descreveu a leve confortabilidade do sofá aonde estava, o barulho das pessoas passando próximo da sala, as pessoas conversando baixinho dentro dela, a TV tocando uma música comum, claro que descrevendo isso em um tom lírico muito mais bonito do que minha simples descrição.
Ela, com uma bolsa não muito grande, segurando apenas alguns cadernos, cansada da aula que teve, repousou um um puff que estava por perto, olhou um pouco as pessoas ao redor, lembrou-se de certas pessoas, ajeitou sua bolsa para ficar mais próxima dela, pegou o caderno que estava carregando por baixo, tirou uma caneta e começou a fazer uma coisa que gostava, escrever sobre as pessoas que a circundavam. Começou a descrever sobre uma menina que estava sentada, escutando música de olhos fechados e totalmente relaxada e imóvel, começou a inventar coisas de como seria a vida dela, o que ela teria feito antes, apenas especulações divertidas. Até que ela olhou para o sofá.
Ele continuava a descrever o ambiente, até que ela chegou. Cabelo preso, levemente encaracolado e loiro, vestindo algo simples, que não chamava grande atenção dos outros, mas dele, ah, dele não conseguiu desviar o olhar, fitou os olhos girando sua cabeça da direita para a esquerda, acompanhando todo o movimento dela, o tempo certamente parou, felizmente ela não olhou para ele em uma primeira instância, porque seria assustador alguém te olhando daquele jeito. No mesmo momento, arrancou a página que estava escrevendo, e começou a descrever ela.
Então o olhar dela, bateu com o dele, uma coisa interessante, não, realmente muito interessante, explosivamente interessante, é o fato de que, se você sabe que alguma pessoa está olhando para você, você está olhando para ela, e ela está olhando para você. E os olhares se cruzaram, e ela sentiu vergonha, não sabia o que fazer, envergonhou-se de uma forma que para ela soava estranha e boba, mas para ele, era absolutamente divina e delicada, então, ela virou a página do caderno e começou a descrever ele.
Ele não quis desviar o olhar, não tinha motivo para não continuar olhando, sentiu-se forte fixando o olhar, pegou sua caneta e começou a escrever como nunca tivera escrito antes, começou a descrever o que pensava da personalidade dela, começou a escrever sobre como o cabelo dela caía levemente sobre o ombro dando um ar de graça, começou a escrever sobre como em uma forma geral, era graciosa e extremamente bela.
Os olhares dos dois novamente se cruzam, esse olhar dura muito mais tempo que um olhar comum duraria, não tão estupidamente longo, mas o suficiente para a desviada de olhar ser extremamente sutil, a ponto de os dois voltarem a escrever, e alguns segundos depois, voltarem a se olhar no mesmo instante. Neste momento, houve uma sinestesia de pensamento entre os dois. O que estaria um escrevendo? Será que ele está escrevendo sobre ela? Será que ela está escrevendo sobre ele? Ou um dos dois apenas está fazendo anotações diárias ou talvez resolvendo esse exercício.
A tensão criada por essa dúvida fez com que a tinta antes despejada sobre as folhas de forma descomunal, agora ficasse mais leve, quase que nula. Porém, os dois voltaram a escrever. Ela começa a escrever sobre o estranho que está a olhando, e a dúvida que ela sentia no momento, mas a dúvida parecia ter um quê de certeza, ela ao mesmo tempo sabia que ele estava olhando para ela, mas não se ele estava olhando para ela do jeito que deveria olhar, essa aura mística que circundava o mistério que ela sentia em relação a ele tornava o momento único.
Ele, arrancou um pequeno bilhete, e escreveu uma coisa. Levantou-se, sentiu confiança, chegou perto dela com o caderno, ela notou sua aproximação, ele retirou a página que estava escrevendo, e entregou para ela, junto com o bilhete. Ela retirou a folha dela, e entregou a ele. Ele se retirou. Nenhuma palavra, nenhum sussurro, não era necessário.