Sobre o objetivo

Quando estava na quarta série, havia terminado minhas tarefas antes que os colegas. Na frente da sala havia uma “santinha”, como era de se esperar em uma escola católica.

Perto da santinha havia um terço. Achava homérica a tarefa de rezar um terço completo, era algo inatingível. Entretanto, estava entediado porque tinha de esperar os coelgas, então me desafiei a rezá-lo.

Não era por fé, era por objetivo. Meta. Dificuldade. Completar. Finalizar.

A medida que mais estudantes terminavam, eles iam até a frente e rezavam comigo. A professora, devotamenta religiosa, achava lindo e emocionante. Ela via uma demonstração da maravilha da oração. Para mim, os coelgas estavam apenas auxiliando na minha meta.

Ainda vejo esse comportamento em mim: terminar por terminar; aparar todas as arestas; fechar o círculo. É difícil lidar com a incomplitude.

                • Curiosamente escrito em uma noite onde me proibi, a partir das 21 horas, de olhar qualquer tela.

Posso?

Posso? Posso te amar de forma sincera? Posso te beijar de forma macia? Posso te abraçar como se fosse a última coisa que eu fosse fazer no mundo? Posso me conectar a tua alma como ninguém antes fez? Posso me perder na minha paixão por ti? Posso fechar os olhos e ver o teu sorriso? Posso suspirar cada vez que te escrevo? Posso?

Café

Estou tomando o meu café e fixo meu olhar na cadeira a frente, vazia. Minha imaginação tenta preencher o vácuo frontal com a imagem dela, mas tal pensamento não tem valor sobre o mundo físico, aparentemente. Sei que nesse momento, minha mente cria um caminho que me conecta a alma dela instantaneamente, fazendo com que os pensamentos dela direcionem-se a mim.

Continuo olhando para o nada e levo minha mão até o centro da mesa, fico imaginando o toque dela sobre minha mão, macio e delicado, e que deixa como lembrança um cheiro doce em meus dedos.

A única coisa que posso fazer é recolher minha mão, dar um pequeno suspiro e tomar outro gole de café.

Cinza

Acordo todos dias sem um propósito
O vento solar atrapalha meu despertar
Há pessoas as quais preferem a noite
Sou uma delas.

Você pode tentar se esconder,
Mas tem de enfrentar,
pessoas escrotas, pessoas que você não quer
Dividir sua presença com elas é como confinamento.

Confrontos inúteis espalham-se pela sua mente,
Nada mais que um dia normal olhando por uma janela
O chão treme e você consegue ficar parado em cima dele
Tanta a sua falta de direção.

E no final das contas, você continua correndo
Correndo parado, como um abobado
Batendo contra as paredes que você mesmo criou
Que ficam ao seu redor junto com sua aura triste.

Torrentes vermelhas

Às vezes é estranho, eu definitivamente não sei o que eu realmente sinto ou penso, acho que é algo tão forte que acaba por corromper a ideia original, então algo de súbito acontece e eu sinto inflamar no meu peito algo muito profundo, tento respirar longamente em uma tentativa estranha que agora aquele buraco em mim seja preenchido com algo, então expiro e vejo que não adiantou. A sensação ainda tenta me persuadir a que ela seja ocupada por algo rapidamente, mas eu sei que ela não será, então minha mente focaliza que no outro lado talvez ela esteja sentindo a mesma coisa, logo o abismo agora é preenchido por torrentes vermelhas e tudo se acalma… e alguns minutos depois eu definitivamente não sei o que eu realmente sinto ou penso,e nesse vai-e-vem perturbado que a paixão vai se substituindo por amor.

Carência

Carência é você cruzar os seus braços em uma tentativa falha de sentir algum calor próximo de você. Carência é você olhar pela janela, avistar diversas almas e realizar que nenhuma daquelas te pertence ou te deseja. Carência é um sentimento de desolação no qual as vezes apenas o toque de certo indivíduo pode afogar essa emoção. Carência é sentir seus membros querendo se mexer como se existisse algo para entrelaçar, mas você está amarrado a essa angústia e não consegue. Carência é imaginar o rosto desejado apoiado sobre o seu peito e querer passar a mão no cabelo,e depois sentir suas costas. Carência é apreciar a sua ausência.

Tulipas Amarelas

O céu não estava totalmente nublado, nem totalmente aberto, mas sim um misto dos dois, o que permitia que o ar fresco da primavera penetrasse em minhas narinas de forma clara e objetiva, auxiliado pela localização longe da atmosfera corrompível da cidade, os raios de luz batiam fracos em minha pele, suficientemente agradáveis.

Estava em cima de meu cavalo, de cor marrom, muito belo. À minha esquerda estava ela, montada sobre um cavalo branco, usando um vestido simples, mesclando o ciano com o branco. Era um vestido leve e seu cabelo esvoaçava com a leve brisa que fluía no seu rosto.

A paisagem era belíssima, um campo de tulipas amarelas, balançando de forma sonolenta ao redor de nós e se estendendo até as colinas ao fundo, onde se via alguns moinhos rodando lentamente. As flores eram encantadoras e traziam uma sensação de paz e conforto, quase que um retorno à terra.

Olhei mais ao fundo e avistei uma única macieira, em um lugar mais elevado da planície. Estava um pouco mais a frente dela, olhei pra trás e a vi olhando ternamente para um ponto qualquer, com a mente possivelmente em outro lugar, extasiada pela beleza natural do lugar e observando o ínfimo do horizonte. Continuei admirando-a, ela olhou pra mim e se espantou um pouco com o olhar estranho que estava fazendo. Perguntou o que estava acontecendo, apontei para a árvore ao fundo, ela fez um olhar penetrante no alvo e fez com que seu cavalo acelerasse na minha frente. Dei uma risada e a segui.

Cavalgamos algumas dezenas de metros, ela desceu do seu cavalo, pegou as suas rédeas e esperou-me chegar até ali para me entregá-las, enquanto fazia o mesmo com meu cavalo. Enquanto eu encaminhava os cavalos lentamente até atrás da árvore, ela segurava um cesto de madeira, e enquanto andava no meio das tulipas, passando sua mão bem próximas delas, assobiava uma melodia agradável e andava quase que dançando ao som que fazia.

Enquanto amarrava os cavalos na árvore, ela me perguntou se eu não vinha, disse que já estava indo, e caminhei até ela, ela ajoelhou-se na grama macia, olhou para mim e deu um sorriso, respondi com um sorriso um pouco tímido, mas tão sincero quanto o dela e sentei próximo dela. Após isso, ela abriu o cesto de madeira, e tirou uma toalha xadrez de cores vermelha e branca, abriu-a e estendeu-a sobre a grama. Ela se abaixou para fazer isso, e nesse momento, seu cabelo caiu sobre seu rosto e eu gentilmente ajeitei ele e botei ele de volta atrás da sua orelha, um gesto simpático. Ela pegou minha mão enquanto eu estava ajeitando o cabelo dela e fez com a que eu a passasse sobre a pele suave.

De dentro do cesto, ela tira um sanduíche de atum e me oferece, ela sabe que aquele sanduíche é um dos meus prediletos, e como tenho paixão em relação a esse peixe de dois metros, muito apetitoso, embora ela não fosse muito fã de carnes em geral devo dizer, tanto que seu sanduíche era composto de diversas coisas, mas acho que o principal era alface e queijo, sendo que não me era de muito agrado a parte do queijo.

Terminamos nossos lanches, trocamos apenas algumas palavras, aquela altura elas já não eram mais tão necessárias. Deitei sobre a tolha estendida no chão, ela se aproximou e deitou-se sobre o meu peito, ficamos olhando para árvore em cima de nós, ela passava lentamente as suas unhas sobre a minha camiseta, causando um pequeno arrepio bom, enquanto eu passava mão sobre o braço dela, aconchegando ela para mais perto, a sensação que o tempo poderia congelar ali e se estabelecer naquele ponto para sempre persistiu por um longo instante, ela chegou um pouco mais próximo dele, os olhares se encontraram.

Nenhuma palavra, nenhum sussurro


Ele sentou, cruzou as pernas do modo que os homens cruzam, abriu sua mochila que tinha repousado no chão, puxou uma caneta e um caderno, e ouvindo uma música agradabilíssima, começou a fazer uma coisa que gostava, escrever sobre o lugar e o que sentia no momento, descreveu a leve confortabilidade do sofá aonde estava, o barulho das pessoas passando próximo da sala, as pessoas conversando baixinho dentro dela, a TV tocando uma música comum, claro que descrevendo isso em um tom lírico muito mais bonito do que minha simples descrição.

Ela, com uma bolsa não muito grande, segurando apenas alguns cadernos, cansada da aula que teve, repousou um um puff que estava por perto, olhou um pouco as pessoas ao redor, lembrou-se de certas pessoas, ajeitou sua bolsa para ficar mais próxima dela, pegou o caderno que estava carregando por baixo, tirou uma caneta e começou a fazer uma coisa que gostava, escrever sobre as pessoas que a circundavam. Começou a descrever sobre uma menina que estava sentada, escutando música de olhos fechados e totalmente relaxada e imóvel, começou a inventar coisas de como seria a vida dela, o que ela teria feito antes, apenas especulações divertidas. Até que ela olhou para o sofá.

Ele continuava a descrever o ambiente, até que ela chegou. Cabelo preso, levemente encaracolado e loiro, vestindo algo simples, que não chamava grande atenção dos outros, mas dele, ah, dele não conseguiu desviar o olhar, fitou os olhos girando sua cabeça da direita para a esquerda, acompanhando todo o movimento dela, o tempo certamente parou, felizmente ela não olhou para ele em uma primeira instância, porque seria assustador alguém te olhando daquele jeito. No mesmo momento, arrancou a página que estava escrevendo, e começou a descrever ela.

Então o olhar dela, bateu com o dele,  uma coisa interessante, não, realmente muito interessante, explosivamente interessante, é o fato de que, se você sabe que alguma pessoa está olhando para você, você está olhando para ela, e ela está olhando para você. E os olhares se cruzaram, e ela sentiu vergonha, não sabia o que fazer, envergonhou-se de uma forma que para ela soava estranha e boba, mas para ele, era absolutamente divina e delicada, então, ela virou a página do caderno e começou a descrever ele.

Ele não quis desviar o olhar, não tinha motivo para não continuar olhando, sentiu-se forte fixando o olhar, pegou sua caneta e começou a escrever como nunca tivera escrito antes, começou a descrever o que pensava da personalidade dela, começou a escrever sobre como o cabelo dela caía levemente sobre o ombro dando um ar de graça, começou a escrever sobre como em uma forma geral, era graciosa e extremamente bela.

Os olhares dos dois novamente se cruzam, esse olhar dura muito mais tempo que um olhar comum duraria, não tão estupidamente longo, mas o suficiente para a desviada de olhar ser extremamente sutil, a ponto de os dois voltarem a escrever, e alguns segundos depois, voltarem a se olhar no mesmo instante. Neste momento, houve uma sinestesia de pensamento entre os dois. O que estaria um escrevendo? Será que ele está escrevendo sobre ela? Será que ela está escrevendo sobre ele? Ou um dos dois apenas está fazendo anotações diárias ou talvez resolvendo esse exercício.

A tensão criada por essa dúvida fez com que a tinta antes despejada sobre as folhas de forma descomunal, agora ficasse mais leve, quase que nula. Porém, os dois voltaram a escrever. Ela começa a escrever sobre o estranho que está a olhando, e a dúvida que ela sentia no momento, mas a dúvida parecia ter um quê de certeza, ela ao mesmo tempo sabia que ele estava olhando para ela, mas não se ele estava olhando para ela do jeito que deveria olhar, essa aura mística que circundava o mistério que ela sentia em relação a ele tornava o momento único.

Ele, arrancou um pequeno bilhete, e escreveu uma coisa. Levantou-se, sentiu confiança, chegou perto dela com o caderno, ela notou sua aproximação, ele retirou a página que estava escrevendo, e entregou para ela, junto com o bilhete. Ela retirou a folha dela, e entregou a ele. Ele se retirou. Nenhuma palavra, nenhum sussurro, não era necessário.

As 301 personalidades de Eduardo


Reajo diferentemente a cada pessoa que conheço, se você me conhece, acredite: Eu te trato de outro modo quando estou interagindo com você. Isso deve ser comum nas pessoas normais também, muito provavelmente você difere no modo de agir e conversar em casa, no trabalho, na faculdade ou com os amigos. Mas isso é evidentemente expandido quando se trata de mim, Eduardo.

Eu tenho uma base, uma espécie de personalidade fixa, que só eu conheço, e é com ela que me dou muito bem, compreendo, e não a modifico quando estou sozinho. Agora, vamos pegar o exemplo inicialmente de eu conversando apenas com uma pessoa, essa base se modifica em torno de 15%~20%, e se adapta ao tipo de conversa que eu espero da pessoa, e também devido a como a pessoa é, por isso que existem grandes chances de eu não ir com a sua cara, se de alguma forma, algo em você não me atrai, vai ser difícil interagir, pois vou estar me modificando a um ponto que não fico bem comigo mesmo, logo, prefiro ficar na minha e economizar o verbo.

Agora, uma coisa realmente interessante é quando estou conversando por exemplo com dois ou três amigos meus, eu junto a personalidade que uso para cada um dos três em uma só. Isso pode ser tanto bom quanto ruim, felizmente, com meus amigos, o resultado é muito bom, na maioria das vezes, me torno uma pessoa divertida, e junto o melhor que sou com cada um pessoalmente. Agora, já tive tempos em que é muito chato ficar numa conversa com pessoas diferentes, eu acabo interpretando, não sendo eu mesmo, jogando um jogo social monótono, e isso é estressante. Existem pessoas que gosto de conversar somente 1 a 1, outras que só em conjunto fica legal. De qualquer forma, não se preocupe, não sou nenhum tipo de pessoa transtornada ou um serial killer, é só porque meu exterior é disforme.

Adendo:  Hoje em dia,  diferentemente de há um ano atrás, é muito mais fácil lidar com isso, uma certa dose de tolerância e aceitação, e não ter medo da exposição própria ajudam bastante.

Teoria dos Estojos


A Teoria dos Estojos, conjecturada por mim há alguns meses atrás, baseia-se em um princípio simples: “A aparência do estojo de algum indivíduo, representa fortes características de sua personalidade”.
Não concordas? Imagine o estojo escolar da patrcinha da sala, normalmente um rosa tão explosivo, ou um roxo simples, ou de algum cara levemente esquisito perto da parede, um estojo dúbio, provavelmente de cor escura, ou talvez da menina que sempre está conversando, provavelmente uma coisa ‘cute’. Pelo menos a mim faz sentido.
Durante o Ensino Médio, usei um estojo todo preto, sem nada. Era prático, útil e discreto. Agora, na faculdade, não uso estojo, o que não significa que não tenha personalidade -risos- mas sim que ____________________________.

(Favor Eduardo, completar essa lacuna daqui há alguns anos quando tu te entender, grato).